guns ain't roses

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segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

O melhor da vida

Uma velha senhora chamada Lúcia obsevava as netas com melancolia durante mais uma das festas em família. As jovens eram seus maiores orgulhos: cheias de vivacidade, bonitas como anjos e totalmente realizadas em suas jovens vidas. Naquela noite em particular, a mais velha das netas resolvera anunciar a gravidez e a família enchera-se de euforia festejando a chegada do novo membro. No entanto, a senhora apesar de muito feliz com a novidade, estava com a cabeça em outro mundo, muito longe dali.

Lúcia sentia a morte aproximando-se. Ela não sabia como explicar,mas simplesmente sabia que estava prestes a partir. E vendo as netas,os filhos...Todos à sua volta sempre tão alegres, ela sentia com dor no coração que pouco vivera. Grande parte de sua vida passara trabalhando duro, casara-se cedo com um homem bruto e indelicado, não viajara o mundo como planejara jovem, não tivera filhos que a tratassem com delicadeza e mesmo sendo tão nova quando a viuvice à sucumbiu,não se casara e agora vivia na solidão,o mais triste dos castigos humanos.

Não conhecera o amor de um homem puro e sincero e caíra na tristeza com as inúmeras traições do marido, que apesar de ser um homem de bom coração deixara de amá-la depois de alguns anos de rotina. O tão sonhado 'eu te amo' não a acompanhara durante a vida e mesmo sem o amor do marido, sentira na pele quando este deixara o mundo, deixando-a por fim sozinha. Sentia falta de um companheiro e sentia inveja das amigas que tinham em casa alguém que fosse só para resmungar sobre a novela e reclamar sobre a comida.

A vida no entanto sempre nos prega peças e para a velha-velha Lúcia ainda havia chances. A mulher que se escondera por trás de terços, de panelas e de remorsos, via agora os calorosos olhos castanhos brilharem novamente. Chamava-se Luis Miguel como o cantor e era um cavalheiro à moda antiga. Frequentavam a mesma igreja e coincidentemente foram apresentados durante uma quermesse boba da igreja. A amizade nasceu e Lúcia encantou-se por aquele Miguel de quase oitenta anos, que vivera e amara muito, mas agora apenas estava acomodando-se com o fim de vida pacato. De repente, a velha-e-quase-morta mulher conhecera uma razão sadia para acordar todos os dias com um sorriso bobo nos lábios. Miguel era fogo, era consistências, era magia. Lúcia estava apaixonada.

Certa noite, Luis confidenciara à Lúcia que estava doente e que antes disso planejava viajar o mundo mais um pouco, mas que ela tinha que ir junto porque ele almejava morrer nos braços da mulher amada.

Viajaram,viajaram e então em uma esplendorosa tarde às margens do rio Senna, Luis expirou e ao invés de lágrimas, Lúcia estava feliz porque agora podia ir também: conhecera o amor de sua vida, havia vivido o melhor da vida.

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